Com os Estados Unidos aumentando cada vez mais as tarifas sobre produtos chineses, a Apple está acelerando sua estratégia para fugir dessas taxas altíssimas, que começaram ainda no governo Trump. Para isso, a empresa vem redesenhando sua cadeia global de produção e, agora, o Brasil entrou oficialmente nessa jogada.
Depois dos primeiros rumores sobre a ampliação da linha de produção no Brasil, agora é oficial: a Apple já começou a montar o novo iPhone 16e em território brasileiro. Inclusive, consumidores de fora do país já conseguiram comprar modelos do iPhone 16e com a etiqueta “Fabricado no Brasil”.

De acordo com o site MacMagazine, desde o lançamento oficial do iPhone 16e, a Apple já deu início à montagem local aqui no Brasil, praticamente ao mesmo tempo que na China. Quem comprou o aparelho no Brasil percebeu que a embalagem traz a indicação “Montado no Brasil” e o código do aparelho termina com “BR/A”, sinal de que ele foi realmente produzido por aqui — diferente dos modelos importados, que têm o código “BE/A”.
Documentos da Anatel confirmam: atualmente, o iPhone 16e está sendo montado em três países — Brasil, China e Índia.

Um dos principais motivos para essa mudança tem sido a chamada “guerra tarifária”. O governo dos Estados Unidos passou a cobrar até 245% de imposto sobre certos produtos vindos da China. Em comparação, os produtos montados no Brasil enfrentam apenas 10% de tarifas. Isso faz do Brasil uma opção estratégica para a Apple evitar os impostos altíssimos.
A Apple está trabalhando em parceria com a Foxconn — a gigante chinesa que monta seus produtos — para ampliar as fábricas no Brasil e, assim, reduzir ainda mais a dependência da produção chinesa. Antes das novas tarifas entrarem em vigor, a Apple chegou a fazer envios urgentes de iPhones da China e da Índia para os Estados Unidos, tentando escapar do impacto das novas taxas.
Nos últimos anos, a Apple já vinha ampliando suas operações em países como Índia e Vietnã. Parte da linha do iPhone 16, por exemplo, já está sendo montada em território indiano. A Índia, aliás, já é o segundo maior polo de montagem de iPhones, perdendo apenas para a China.
Mas será que a Apple vai realmente deixar a China?

Hoje, a cadeia de suprimentos da Apple ainda depende fortemente da China. O país é não só o maior polo de montagem da marca, mas também concentra uma rede completa de fornecedores, como a própria Foxconn e empresas especializadas em peças, chips, telas, baterias e muito mais.
Nos últimos dez anos, a China se tornou um parceiro essencial graças à sua eficiência de produção, mão de obra qualificada e infraestrutura de alto nível.
Mas, como todo bom empresário, Tim Cook sabe que não dá para colocar todos os ovos na mesma cesta. Com incentivos como tarifas menores e programas governamentais, países como Brasil e Índia estão se tornando alternativas reais. A Índia, por exemplo, lançou um programa chamado “PLI” (Plano de Incentivo à Produção), para atrair empresas como a Apple. Além disso, esses países também têm grandes mercados consumidores.
Fazer parte da produção local não só ajuda a Apple a pagar menos impostos, mas também permite que a empresa se adapte com mais agilidade às necessidades de cada mercado.
Mesmo assim, substituir completamente a China em curto prazo é quase impossível. Aqui vão os principais motivos:
- Falta de estrutura industrial: A China tem a cadeia de suprimentos mais completa do mundo para produtos eletrônicos, desde os chips até as telas. Brasil e Índia ainda dependem muito de peças importadas da China para montar os aparelhos.
- Mão de obra e produtividade: As fábricas chinesas contam com milhões de trabalhadores experientes e processos altamente otimizados. Já o Brasil e a Índia ainda estão no processo de aprimorar sua mão de obra e aumentar a eficiência.
- Infraestrutura: A China tem uma logística impecável, com portos modernos, redes ferroviárias eficientes e fornecimento de energia estável. Em comparação, o Brasil ainda enfrenta desafios de infraestrutura que podem limitar a expansão das fábricas.
Por isso, o que a Apple vem fazendo é o chamado modelo “China + Diversificação” — ou seja, manter a China como o principal centro de produção, mas com mais alternativas fora do país.
Ainda, em 2025, cerca de 80% dos iPhones serão montados na China. A Índia já responde por cerca de 14% da produção global e deve chegar a 20% ou 25% nos próximos anos. No caso do Brasil, a produção ainda é pequena e voltada, principalmente, para o mercado da América do Sul. Mas com os novos investimentos da Foxconn por aqui, esse papel pode crescer bastante. Já o Vietnã está focado na fabricação de produtos como os AirPods.
No futuro, a Apple deve manter a China como base para produtos premium e para pesquisa e desenvolvimento, enquanto transfere a montagem de aparelhos mais acessíveis para países como Índia e Brasil.